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A Natureza no Homem

A Natureza no Homem

 

1.1   A Natureza no Homem

                                                                                         “Todo o animal é o que é;    

                                                               somente o homem não é, na origem, nada.”

                                                                                                (Charlot, 2000: 51)

 

O que é o homem atual?

Como afirma Morin o “homem” é um animal da

 “ (…) classe dos mamíferos, da ordem dos primatas, da família dos hominídeos, do género homo, da espécie sapiens, que o nosso corpo é uma máquina com trinta biliões de células, controlada e procriada por um sistema genético que se constitui no decurso de uma longa evolução natural de 2 a 3 biliões de anos”[1].

 

Este mesmo homem tornou-se o animal mais inteligente da Terra, não obstante à nascença se apresentar como o mais débil dos seres vivos tendo em conta o seu inacabamento instintivo. Nasceu sem um futuro inscrito no seu código genético, quer devido à sua indefinição biológica, quer a um habitat que se revelou muito pouco simpático.

     Apesar da sua inexpecificidade, este mesmo homem aprendeu a sobreviver, marcando presença em todo o planeta com a sua curiosidade e ambição.

    Como foi possível que este ser inacabado se tornasse o ser vivo mais poderoso à face da Terra?

     A razão está no seu cérebro. O cérebro do homem é responsável por contarmos com um passado, termos um presente e sonharmos com um futuro; é responsável pela evolução de um “ser animal”, para um “ser humano”.

     De macaco a humano assim se pode resumir a história da humanidade; um percurso de milhões de anos recheados de vicissitudes que testaram a vontade deste homem em prosseguir o seu fado e tornar-se no animal mais dominador que se conhece.

     O homem ao longo do seu processo de hominização foi assimilando características que lhe garantiram vantagens sobre os outros animais: o ter-se tornado bípede permitiu consumir menos calorias, poupando assim energias; introduziu na sua dieta herbívora o consumo de carne, tornando-se carnívoro, o que lhe permitiu a aquisição de proteínas que facilitou o desenvolvimento cerebral; com a ingestão de proteínas favoreceu o crescimento cerebral, passando a ser dotado de um cérebro maior que os outros primatas, cujas vantagens resultaram em ideias mais elaboradas e numa capacidade criativa para produzir utensílios e estratégias de caça e de defesa; foi capaz de desenvolver a linguagem como processo de comunicação; conseguiu dominar o fogo e a agricultura, revolucionando o modelo de organização humana facilitando o sedentarismo e a vida em grupo. Mas mais do que tudo isto, o homem conseguiu transmitir às novas gerações, os novos saberes e as novas competências, perpetuando desta forma o passado pela transmissão do conhecimento e da experiência.

     O homem é por tudo isto um animal bem-sucedido desde que há milhões de anos se apresentou como um símio que vivia em África, que modificou a natureza para se abrigar e subsistir. Tudo se deveu por um lado ao ímpeto humano mas fundamentalmente à seleção natural como estratégia e à evolução como processo, pois a ciência acredita, que nada surge de novo na natureza sem um motivo que resulte de um qualquer constrangimento ou benefício, promovendo assim uma pressão evolucionária. 

Não há então qualquer dúvida, o homem é antes de tudo um animal e como qualquer outro animal, rege-se por leis que regulam os seres vivos.

Esta condição de ser vivo marca o percurso realizado pelo “homem” na persecução da elevação ao estatuto de “humano”, percurso durante o qual se foi assumindo um processo de humanização assente nas oportunidades que os parâmetros comportamentais[2] deste ser vivo proporcionaram, umas vezes de forma positiva e favorável ao processo de humanização[3], outras nem tanto, mas cujo resultado contribuiu, não só para o homem de hoje, mas para aquele humano, que o homem de hoje é.

            É importante reter que este humano, é um homem preso aos parâmetros comportamentais dos seres vivos[4] que a ciência reconhece como identificadores do comportamento dos seres com vida[5] e que revela nesta caminhada solitária de homem a humano uma realidade inquestionável, o ser humano é antes de tudo um animal que transporta as virtualidades e os constrangimentos dessa sua condição.

Esta condição, central na natureza humana, significa antes de mais que o discurso sobre o humano deve ser orientado para o “ser coletivo” e não para o “homem individual”, porque este é logo à partida limitado nas capacidades, finito nas potencialidades e significativamente circunscrito no tempo. Embora cada homem seja único, com os seus sonhos e desejos, ele constitui-se apenas como um elo na cadeia humana.

     Analisar a origem do homem como ser coletivo pressupõe adotar uma perspetiva antropogénica, que explica o homem num contexto científico[6], que tenta não só perceber como tudo se passou, mas também porque razão foi desta e não de outra forma que tudo aconteceu e isto porque a ciência não aceita o princípio da sorte ou do acaso como regra.



[1] Morin, 2000:15.

[2] São os parâmetros comportamentais que caracterizam a estrutura organizada do ser vivo.

[3] Humanização entendido como o processo evolutivo do homem.

[4]

  1. , procurando um equilíbrio interno – - que permita manter a estabilidade entre o meio ambiente e a estrutura viva que compõe o ser vivo, possibilitando desta forma conservar as suas características. A evolução permite ao ser vivo, um ganho em capacidades capazes de possibilitar a interação com o meio ambiente, alterando-o quando necessário à sua sobrevivência, ou o próprio meio força a alteração no organismo, o que significa que os organismos vivos interagem com o meio e vice-versa. Desta interação resulta o sucesso ou não da espécie, expressa na descendência vingada.Todo o ser vivo reage ao meio ambiente homeostase interna
  2. O ser vivo autonomiza-se em relação ao meio, não só de uma forma expressa pela locomoção, mas também pelas reações pouco deterministas e previsíveis dos seres vivos, revelando uma autonomia singular e uma capacidade de auto-organização, mesmo dentro da própria espécie.
  3. Os seres vivos organizam-se em moléculas orgânicas e inorgânicas, originando uma organização complexa e reações em cadeia na organização molecular de qualquer sistema vivo.
  4. O ser vivo metaboliza os nutrientes essenciais que aprovisiona, em “materiais de construção” e “energia de acção” e que garantem a manutenção da estrutura interna específica do ser vivo.
  5. Os seres vivos adaptam-se revelando uma plasticidade adaptativa das espécies a novos territórios e novas exigências, contribuindo para o processo evolutivo da espécie.
  6.  Os seres vivos reproduzem-se. A reprodução é uma atividade valorizada no mundo animal, porque, por via desta atividade é possível a multiplicação da sua estrutura específica numa outra idêntica, através do fenómeno da hereditariedade, onde o dispositivo mensageiro designado ARN (ácido ribonucleico) pertencente ao elemento genético transmissor ADN (ácido desoxirribonucleico) difunde as características da espécie, dando origem a um novo ciclo de vida. A perpetuação desse comportamento significa a preservação da espécie.
  7. Os seres vivos evoluem, o que lhes permite atualizarem-se[4] a partir da alteração na herança genética e desta forma transformarem-se ao longo do tempo.
  8. Os seres vivos têm um ciclo vital, que significa fases da sua existência: nascem, crescem, amadurecem, reproduzem-se, envelhecem e morrem. Com a morte permitem a interação do meio com indivíduos mais capazes, consentindo desta forma perpetuar a vida com qualidade (evolução).

Estas são as leis mais significativas que regem o ser vivo e o ser humano enquanto homem (ser vivo).

[5] Não se trata aqui de trazer à coação as conceções de vida, ou do que é a vida e que tem alimentada a discussão académica entre os biólogos moleculares e os defensores da bioética.

[6] Pondo de parte outras explicações como as mitológicas e as religiosas.