A Cidade
Concepção de cidade
A natureza impôs ao ser humano como estratégia de sobrevivência, a condição de ter de viver em grupo. Rapidamente a espécie humana compreendeu as vantagens de não ser solitário quando aderiu e desenvolveu práticas de protecção colectiva, percebendo o benefício da vida em comunidade. A troca de bens, a partilha de esforços, experiências e emoções, fizeram do ser humano um ser solidário, capaz de minimizar diferenças e promover a justiça. Não são os mais fortes que sobrevivem, mas sim os mais solidários como defende a simbiogénese e esta solidariedade, condição que garante um futuro, foi vivida na comunhão de um espaço, inicialmente nas cavernas, mais tarde em assentamentos e posteriormente nas cidades.
Tudo isto se pode perceber nos anais da história humana e tudo isto é possível ler na paisagem de uma cidade.
Cidade como realização humana
Decorre do que foi dito que pela história da cidade se pode compreender a humanidade, pois a cidade é um produto da capacidade de realização humana. Quando interpretada num contexto temporal e espacial, ela representa a construção social de uma determinada época e de uma cultura específica, razão pela qual a cidade se apresenta com uma identidade própria, num espaço singular e irrepetível, onde se manifestam as suas particularidades.
A paisagem da cidade reflecte então em cada momento a conjugação de uma dupla leitura: uma leitura urbanística que nos revela a alma da cidade e que expressa o sentido desta, fruto das dinâmicas sociais que traduzem a manifestação e organização dos grupos produtores da conduta social humana; e uma segunda leitura, uma leitura espacial que interpreta o corpo da cidade e que resulta do sentido da cidade associada à técnica, expressa na cidade morfológica, tornando a cidade um artefacto humano inacabado[1], como inacabado é o ser humano e interminável a sua capacidade dialéctica de projectar cidades na cidade.
A cidade como interpretação de dinâmicas sociais
“As cidades são espaços onde afloram histórias e lembranças, pois se configuram enquanto locus de intensa sociabilidade”[2], por isso para descrever uma cidade teremos que percorrer dois caminhos: um, que nos indica uma determinada paisagem que representa no seu todo um colectivo humano bem como a sua herança, que se perpetua no tempo e que representa a aparência da cidade, com as pessoas, os edifícios, os vales e rios; o outro caminho, de leitura interpretativa de um determinado modelo organizacional humano, representa a essência da cidade, as interacções comunitárias e sócio-territoriais de uma determinada população num determinado período histórico. Tendo em conta o referido entende-se então que descrever uma cidade como um conjunto de equipamentos ou de pessoas, é demasiado redutor.
“Como instituição simbólica e espiritual, como espaço político de coabitação, como instrução colectiva de uma vida material e simbólica, a cidade é o centro da cultura, processo e produto da civilização. Enquanto espaço, a cidade encontra-se marcada por recortes, que produzem diferenças socioculturais diversos”[3].
Neste sentido, a cidade poderá ser vista como uma construção social e que se traduz numa manifestação espacial singular, resultante das dinâmicas de um determinado modelo organizacional humano e onde cada presente reflecte simultaneamente representações do passado e projecções para o futuro.
BIBLIOGRAFIA
FARIA, Carlos Vieira (2009). As Cidades na Cidade. Movimentos sociais urbanos em
Setúbal 1966-1995. 1ª Edição. Lisboa: ESFERA DO CAOS EDITORES, LDA
LOPES, Fátima Faleiros (2007). A CIDADE E A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTOS
HISTÓRICO-EDUCACIONAIS: aproximações entre a Campinas moderna de José de
Castro Mendes e a Barcelona “modelo”. Tese de Doutoramento defendida na
Faculdade de Educação da Unicamp. [On-line]:
https://biblioteca.universia.net/ficha.do?id=37240367 consultado em 20-08-2009
VERNANT, Jean Pierre (2002). As Origens do Pensamento Grego. Rio de Janeiro: Difel