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Uma Proposta de Cidade

Uma Proposta de Cidade

 

Comungo do pressuposto segundo o qual o ser humano é em cada momento, o resultado de oportunidades e opções ao longo da vida e que, em consequência do inacabamento biológico que caracteriza a sua natureza, a cultura e a educação assumem não só uma importância no desenvolvimento holístico do indivíduo, como contribuem para a qualidade das oportunidades surgidas e das opções tomadas. Tendo em conta este pressuposto assumo que a minha concepção de cidade educadora se situa para além da cidade como território educativo, pois acredito que a função educadora da cidade não se reduz à educação formal/escolar em si mesma[1], mas visa a pretexto da amplitude do conceito de educação enquanto responsabilidade social, promover o indivíduo como cidadão ou cidadã, tendo como objectivo a construção de uma sociedade que se pretende mais participativa e consequentemente mais democrática.

Não é estranho a esta minha concepção de cidade educadora o facto de me rever em valores como a democracia, participação cívica e associativismo, sempre presentes na minha vida pessoal, profissional e social e que contribuíram significativamente para o meu desenvolvimento enquanto ser humano e enquanto cidadão. Mas tal como eu, também os valores que me acompanharam não permaneceram imutáveis, eles foram sofrendo alterações ao longo do tempo, muito por culpa das alterações sociais que foram comprometendo as concepções dominantes em cada período da minha vida. Um dos valores aqui em causa e central na minha concepção de cidade educadora é a participação cívica e a sua ligação ao papel de cidadão que historicamente se foi reconfigurando.

    A democracia exercida no contexto actual de globalização política, cultural e económica, onde os centros de decisão se situam cada vez mais distantes dos territórios de intervenção[2], necessita de uma participação mais esclarecida por parte do cidadão e da cidadã. O desafio constante do contacto com a novidade e o diferente impôs à democracia uma mudança de paradigma, deixando cair o enfoque no respeito pela maioria como dogma, para se assumir um novo paradigma que promova o exercício de consenso no respeito pelo direito à diferença. Estamos perante uma aprendizagem da convivência da maioria com o diferente, salvaguardando desta forma uma liberdade individual autónoma e responsável. Também o processo de participação a que faço referência não se circunscreve ao nível redutor da execução, mas reporta a uma participação ao nível da decisão, nível de participação que terá obviamente repercussão na qualidade da dinâmica associativa.

 

A cidade educadora como proposta de intervenção social, perspectiva a educação como uma dimensão que se deseja transversal às várias políticas sectoriais da cidade. Esta outra modalidade de cidade explora a intenção de que todo o potencial da cidade servirá como pretexto educativo para o cidadão e cidadã, fornecendo contextos educativos formais e não formais que contribuirão para o desenvolvimento integral do indivíduo, para a sua autonomia e para o desenvolvimento sustentável da própria cidade. Para que se concretize este objectivo todos os actores sociais da cidade devem associar-se ao processo de construção da cidade, contribuindo com a concepção de cidade por construir para edificar colectivamente a cidade objectiva[3].

É neste enquadramento que o município assume um papel fundamental como promotor da cidade educadora, como mediador entre os recursos e os agentes, dinamizador de projectos integrados e avaliados segundo um paradigma relacional e centrado num Projecto Educativo Municipal.

     Trata-se de um desafio a todos os níveis: ao município uma política pública de rigor técnico e compromisso político; aos vários agentes económicos, culturais e associativos, o contrato de um retorno como agentes educativos e ao cidadão o compromisso de novas estratégias de participação e co-responsabilização.

 

BIBLIOGRAFIA

 

BERNET, J., Trilla (1990): AYUNTAMIENTO DE BARCELONA: La cidad educadora.

   Barcelona: Ayuntamento de Barcelona.

PINTO, Fernando Cabral (2004). Cidadania, Sistema Educativo e Cidade Educadora.   

     Lisboa: Instituto Piaget.

 

 



[1] Como afirma Cabral Pinto, a educação, como educação formal surge como instrumento privilegiado para o acesso ao mercado de trabalho revelando uma dimensão instrumental e funcional da educação escolar. (Pinto 2004)

[2] Este distanciamento provoca como afirma Cabral Pinto um “divórcio entre quem decide e quem obedece” (Pinto, 2004:12)

[3] (Bernet, 1990)