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Sonhar com abril!

Sonhar com abril!

Sonhar com abril!   

     

 Quando os portugueses se lançaram na aventura dos oceanos, não só se propuseram a dar a conhecer outros continentes, povos e culturas, como abriram também caminho para um acreditar, acreditar que era possível perseguir os sonhos e com sacrifício concretizá-los.

    Também na madrugada de 24 para 25 de abril de 1974 os nossos militares sonharam com um novo país, sonharam e levaram, não sem riscos, a bom porto o seu propósito. O sucesso dessa aventura trouxe a democracia e com ela a esperança de uma vida melhor e de outra imagem de Portugal na Europa e no Mundo.

     Volvidos 38 anos, as expectativas depositadas na democracia e numa sociedade plural e justa estão em parte a ser cumpridas. Estão, porque em democracia nada se pode assumir como garantido, a conquista é diária e a vigilância permanente.

    A igualdade de oportunidade para ambos os sexos, uma proteção social digna, um acesso à educação, saúde e lazer para todos e todas, são apenas alguns apontamentos do bom que foi feito nestes novos tempos.

    Mas este desafio por um país melhor, não se tem revelado um processo fácil. Obstáculos de vária natureza têm comprometido a afirmação do país e o sonho dos portugueses. Momentos de euforia e de avanços consideráveis têm contrabalançado com momentos angustiantes onde erros e indefinições têm conduzido a crises que vão adiando o futuro do país e das suas gentes.

     Vivemos por certo, hoje, um desses momentos.

 

     Publicitada uma crise económico-financeira, na verdade esta crise esconde outras crises mais profundas e nefastas para a sociedade portuguesa.

     Vivemos antes de tudo uma crise de confiança.

     Temos um Estado que desconfia do cidadão e que legisla nessa base; por outro lado, portugueses que olham o Estado com desconfiança, pois este tem vindo a proferir um violento ataque, sem qualquer sensibilidade social, aos direitos e expectativas dos mais fracos, em nome de uma duvidosa “salvação nacional”, enquanto os privilégios e os negócios protagonizados pelos mais fortes, com lucros abusivos e lesivos para o erário público, continuam incólumes pondo a nu uma repartição desequilibrada dos sacrifícios.

      Vivemos também uma crise doméstica na justiça. Estamos perante uma justiça que não consegue fazer jus ao seu nome, porque não tem força e uma justiça sem força, não consegue fazer justiça, e uma sociedade onde não se faz justiça, é uma sociedade onde não existe verdade nem equidade.

     Convivemos também com uma crise na economia, muito por conta de uma hiper valorização da finança em detrimento da ideologia, o que nos conduziu a um forte desequilíbrio entre o poder do capital e o do trabalho. Uma economia que ao reduzir as pessoas a números, acabou por infringir um rude golpe na dignidade humana.

      Por outro lado e não menos importante, deparamo-nos com uma crise na gestão política da Europa, por ausência de lideranças com visão estratégica. Uma Europa que se sente sem rumo e prisioneira das regras da finança internacional em boa parte por culpa dos dirigentes políticos internacionais que se têm declarado nesciamente incapazes, por se revelarem tecnicamente incompetente e politicamente inábeis.        

      Todas estas crises influenciam a garantia do acesso à educação, à saúde, à justiça e ao trabalho e com isso a qualidade de vida de todos nós.

 

     Como sair deste impasse?

     Não é fácil encontrar a resposta, nem existe por certo um caminho único, mas tal como na aventura dos Descobrimentos, compete-nos enfrentar o problema todos juntos e acreditar, acreditar que é possível, como acreditaram o Infante D. Henrique, Gil Eanes, Bartolomeu Dias, Vasco da Gama, Fernão de Magalhães e todos aqueles marinheiros anónimos que tornaram com o seu singelo contributo, possível o Portugal de hoje.    

     

     Mas seja qual for a direção e o sentido da solução coletiva que os portugueses escolherem, nada fará sentido se não reaprendermos os valores da “solidariedade” e do “servir público”. Um Estado só existe porque existe um povo a ser representado e defendido nos seus interesses e por isso para o Estado as pessoas devem estar primeiro. Teremos que ter uma gestão do país que aponte para o primado do indivíduo sobre a economia, uma economia ligada às pessoas, que contrarie a política económico-financeira atual, onde as pessoas não estão em primeiro, mas também não estão em último porque simplesmente não estão. Um país onde “as pessoas estão primeiro”,deve promover a coesão nacional, onde os sacrifícios são partilhados de forma equitativa, ao contrário de uma visão cega e provinciana de uma proteção desmesurada ao poder económico-financeiro, caminho que hoje trilhamos. Um país onde “as pessoas estão primeiro” deve defender uma escola que recebe crianças, transforma-as em alunos e alunas e devolve-as como cidadãos e cidadãs, ao contrário da atual política educativa que impõe às escolas um ensino sem educação. Num país onde “as pessoas estão primeiro”, a solidariedade social deve assumir uma dimensão de respeito pela dignidade humana e não adotar como paradigma uma postura assistencialista.

     No fundo trata-se de reencontrarmos os ideais de abril, que teimosamente continuamos a recordar, ano após ano, em singelas homenagens e que enchem os corações daqueles que continuam a acreditar que vale a pena apostar num Portugal livre e democrata.

     Ao comemorarmos o 25 de abril como um evento passado, projetemos no futuro o seu significado, apelando aos portugueses para o exercício da cidadania e esta não se reduz a um conjunto de direitos, ela implica também a participação responsável na vida pública. Estamos perante um Portugal e um futuro que vai exigir mais de todos nós e em especial dos jovens e estes não podem fugir a esta responsabilidade, em primeiro lugar porque o futuro a eles pertence e em segundo lugar porque os jovens têm a energia, o tempo e hoje mais do que nunca, o conhecimento.

      Somos como cidadãos de hoje, responsáveis pelo Portugal de amanhã, por isso não deixem de SONHAR COM ABRIL!